Cinco lideranças de comunidades que decidiram abraçar o turismo indígena de base comunitária se reuniram pela primeira vez, em São Paulo, para compartilhar experiências, discutir a relação com agências e operadoras de turismo e contar como a atividade é vista por seus povos.

Dina Yawanawá, Tiago Karai, Salomão Ramos Yanomami, Henyo Barreto, José Augusto Lopes Pereira e Jaciel Rodrigues
Dina Yawanawá (Terra Indígena Rio Gregório, AC), Tiago Karai (Terra Indígena Tenondé Porã, SP), Salomão Ramos Yanomami (Projeto Yaripo, Pico da Neblina, AM), Henyo Barreto (Universidade de Brasília), José Augusto Lopes Pereira (Funai), Jaciel Rodrigues (Projeto Serras Guerreiras de Tapuruquara, AM) e Roberto Pereira Lopes (Rio Marié, Terra Indígena Médio Rio Negro I, AM)

O evento Turismo Indígena: oportunidade para fazer amigos, gerar renda e proteger o território, realizado pela ONG Garupa e pelo Instituto Socioambiental (ISA) no Unibes Cultural, em São Paulo, mostrou que mesmo como uma atividade recente há uma diversidade de iniciativas que ganhou corpo nos últimos anos com a regulamentação da Funai, publicada em 2015.

“É importante dar mais visibilidade e entendimento sobre o que é o turismo indígena, que tem potencial para promover o bem estar das comunidades indígenas”, afirma Marcos Wesley de Oliveira, coordenador do Programa Rio Negro do ISA.

Para Monica Barroso, diretora-executiva da Garupa, o encontro foi uma “rara oportunidade de escuta e aprendizado com lideranças indígenas.” “Mais do que desafios, pudemos tatear um novo campo de possibilidades que convida a todos, comunidades, operadoras, viajantes, a repensar crenças, práticas e relações”, afirma.

De xamanismo a escalada, de pesca esportiva a imersões culturais, os roteiros de turismo indígena de base comunitária partem do interesse das comunidades em desenvolver uma atividade que valorize a cultura, seja uma alternativa de renda, engaje jovens e tenha como resultado a proteção de seus territórios.

Para as lideranças presentes, o turismo é uma oportunidade de gerar renda, fazer amigos e principalmente romper com preconceitos. “A gente não quer viver do turismo. A gente quer formar pessoas. Mudar o olhar preconceituoso, estereotipado”, afirmou Tiago Karai, do povo Guarani Mbya, Terra Indígena Tenondé Porã (SP). “O turista deve sair da experiência com outra visão sobre o que é a vida na aldeia”, resumiu Dina Yawanawá, do povo Yawanawá, Terra Indígena Rio Gregório (AC).

Salomão Ramos Yanomami, da comunidade Maturacá, Terra Indígena Yanomami (AM)
Salomão Ramos Yanomami, da comunidade Maturacá, Terra Indígena Yanomami (AM)
Jaciel Rodrigues, das Serras Guerreiras de Tapuruquara (AM)
Jaciel Rodrigues, das Serras Guerreiras de Tapuruquara (AM)

 

Regulamentação e protagonismo indígena

Entre as lideranças, o protagonismo indígena vem para superar um problema antigo vivido pelas comunidades. O turismo em Terras Indígenas, concordaram, sempre aconteceu sem regulamentação e, muitas vezes, explorado por agências atuando como atravessadores, com falta de transparência.

“Em muitas Terras Indígenas o turismo já acontecia com determinantes de fora para dentro”, afirmou José Augusto Lopes Pereira, da Coordenação-Geral de Promoção ao Etnodesenvolvimento da Funai. “A gente optou por conhecer o que estava acontecendo.”

Os Planos de Visitação, redigidos pelas comunidades e obrigatórios para iniciar a atividade, criam condições para que os indígenas sejam autores dos roteiros de visitação, desde sua concepção até o receptivo. Os documentos detalham as atividades a serem realizadas, com público-alvo, quantidade máxima de visitantes, distribuição do trabalho nas comunidades, manual de conduta e plano de negócios.

“O projeto deve melhorar a vida da comunidade e não afetar a cultura originária”, disse Salomão Ramos Yanomami, da comunidade Maturacá, Terra Indígena Yanomami (AM). Ele é o coordenador do projeto Yaripo, como é chamado o Pico da Neblina na língua Yanomami. “Agora a gente tem controle, faz a vigilância do rio. Todos que trabalham com turismo gostam muito”, relata Jaciel Manoel Rodrigues, do projeto Serras Guerreiras de Tapuruquara, nas Terras Indígenas Médio Rio Negro I e II (AM).

Roberto Pereira Lopes relembrou como empresas exploravam de forma desordenada o rio Marié, Terra Indígena Médio Rio Negro I (AM), sem estudos de capacidade de pesca, monitoramento ou fiscalização. “As escolas eram barraquinhas, agora temos um bom centro comunitário, compramos painéis solares e radiofonia”, afirmou.

O evento Turismo Indígena teve mediação do Antropólogo Henyo Barreto (Universidade de Brasília) e fez parte das comemorações de 25 anos do ISA.

Por Roberto Almeida, do ISA

Matéria publicada originalmente no site do ISA em 23/07/2019.

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